UEL 2012 – 2ª fase
25 nov 2013 Deixe um comentário
em América Latina, África, Ásia, Brasil, economia, Estados Unidos, Europa, política externa, Questões UEL, Relações Internacionais, sociologia, sustentabilidade Tags:brasil, capital, capitalismo, civilizadora, civilizatória, Company, cultura, etnocêntrica, etnocêntrico, etnocentrismo, Ford, humaniadde, humanidade, indústria, industrial, industrialização, látex, missão, post, século, Times, trabalho, washington, XX
1984 – filme de 1956
01 out 2013 Deixe um comentário
em política externa, Relações Internacionais, segurança internacional, sociologia, tecnologias de informação, video Tags:1984, anderson, câmeras, controle, ficção, filme, foucault, george, livro, michael, orwell, público, privado, tela, vigilância
1984 é um filme de ficção científica britânico de 1956, dirigido por Michael Anderson, baseado no livro homônimo do autor inglês George Orwell.
“Eu, presidente da Bolívia, sequestrado em um aeroporto europeu”
08 ago 2013 Deixe um comentário
em América Latina, Estados Unidos, Europa, movimentos sociais, notícias, política externa, Relações Internacionais, segurança internacional, sociologia, sustentabilidade, tecnologias de informação Tags:América Latina, autonomia, Áustria, Bolívia, CIA, cidadania, democracia, diplomacia, Diplomatique, direito, embaixada, Espanha, Estado, estados unidos, Europa, Evo Morales, França, governo, internacional, le, Monde, presidente, Rússia, Snowden, soberania
01 de Agosto de 2013
A revelação, por Edward Snowden, do caráter tentacular da espionagem norte-americana não suscitou nada além de reações cautelosas dos dirigentes europeus, os quais, pelo contrário, não hesitaram em cercar o avião do presidente boliviano Evo Morales, suspeito de transportar o técnico em informática fugitivo.
por Evo Morales
No dia 2 de julho, ocorreu um dos episódios mais insólitos da história do direito internacional: a proibição do avião presidencial do Estado Plurinacional da Bolívia de sobrevoar os territórios francês, espanhol, italiano e português, e, em seguida, meu sequestro no aeroporto de Viena (Áustria), durante catorze horas. Algumas semanas depois, esse atentado contra a vida de membros de uma delegação oficial, cometido por Estados reputados por sua democracia e respeito às leis, continua a provocar indignação: abundam as condenações de cidadãos, organizações sociais, organismos internacionais e governos do mundo todo.
O que ocorreu? Eu estava em Moscou, alguns instantes antes do início de uma reunião com o presidente Vladimir Putin, quando um assistente me alertou sobre algumas dificuldades técnicas: seria impossível chegar a Portugal, como previsto inicialmente. Contudo, quando terminou minha reunião com o chefe de Estado russo, já estava claro que o problema não tinha nada de técnico.
Desde La Paz, nosso ministro de Relações Exteriores, David Choquehuanca, conseguiu organizar uma alternativa de voo com escala em Las Palmas de Gran Canaria, na Espanha, e validou o novo trajeto. Tudo parecia em ordem, até que, quando estávamos no ar, o coronel de aviação Celiar Arispe, comandante do Grupo Aéreo Presidencial e piloto na ocasião, veio até a cabine para conversar comigo. “Paris retirou a autorização de sobrevoo! Não poderemos penetrar no espaço aéreo francês.” Sua surpresa era menor do que sua preocupação: estávamos a ponto de passar sobre a França.
Poderíamos tentar retornar à Rússia, mas corríamos o risco de ficar sem gasolina. Diante dessa situação, o coronel Arispe contatou a torre de controle do aeroporto de Viena solicitando autorização para uma aterrissagem de urgência. Agradecemos às autoridades austríacas o sinal verde.
Instalado em um pequeno escritório colocado à minha disposição no aeroporto, conversava com meu vice-presidente, Álvaro García Linera, e Choquehuanca para decidir como proceder e, principalmente, tentar compreender as razões da decisão francesa – já que o piloto me informou também que tentara autorização da Itália para sobrevoar seu espaço aéreo e esta igualmente havia sido recusada.
Foi nesse momento que recebi a visita do embaixador da Espanha na Áustria, Alberto Carnero. Ele anunciou que um novo plano de voo acabara de ser aprovado pelo espaço aéreo espanhol. A única coisa, explicou o embaixador, é que seria preciso, antes, inspecionar o avião presidencial. Era uma condição sine qua non para podermos partir rumo a Las Palmas de Gran Canaria.
Quando questionei as razões dessa exigência, Carnero evocou o nome de Edward Snowden, o funcionário de uma empresa norte-americana contratada por Washington para realizar alguns serviços de inteligência terceirizados. Respondi que o conhecia apenas por notícias publicadas em meios de comunicação e recordei ao diplomata espanhol que meu país respeitava as convenções internacionais: em nenhuma circunstância eu levaria alguém clandestinamente para a Bolívia.
Carnero manteve-se em contato permanente com o subsecretário de Relações Exteriores espanhol, Rafael Mendívil Peydro, que, com toda a propriedade, orientava o embaixador a insistir. “Você não tem o direito de inspecionar esse avião. Se você não acredita no que digo, é porque está tratando o presidente do Estado soberano da Bolívia como mentiroso”, insisti de minha parte. O diplomata saiu novamente para escutar as orientações de seu superior, antes de retornar à sala. Ele me pediu, então, que o convidasse a “tomar um cafezinho” no avião. “Você está me tomando por um delinquente?”, perguntei. “Se você insistir em penetrar nesse avião, terá de fazê-lo pelo uso da força. E eu não resistirei a uma operação militar ou policial: não tenho meios para isso”.
Temeroso, o embaixador descartou a opção da força, não sem precisar que, naquelas condições, ele não poderia autorizar nosso plano de voo: “Às nove horas da manhã, indicaremos se você poderá ou não partir. Daqui até lá, vamos discutir o tema com nossos amigos”, explicou. “Amigos? Mas quem são esses ‘amigos’ da Espanha aos quais você se refere? A França e a Itália, certo?” Ele se recusou a responder e se retirou.
Aproveitei o momento para discutir com a presidente argentina Cristina Fernández – excelente advogada que me guiou em relação a questões jurídicas – e com os presidentes venezuelano e equatoriano, Nicolas Maduro e Rafael Correa, ambos inquietos em relação ao episódio. O presidente Correa voltaria a me telefonar diversas vezes durante o dia para ter notícias minhas. Essa solidariedade me deu forças: “Evo, eles não têm nenhum direito de inspecionar seu avião!”, repetiam. Eu ignorava que meu avião presidencial possuía o mesmo estatuto de uma embaixada. Mas esses conselhos e a chegada dos embaixadores da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba)1 multiplicaram minha determinação de me mostrar firme. Não, não daríamos à Espanha ou a qualquer outro país – menos ainda aos Estados Unidos – a satisfação de inspecionar nosso avião. Sempre defenderemos nossa dignidade, nossa soberania e honra à nossa pátria, nossa pátria grande. Jamais aceitaremos chantagens.
O embaixador da Espanha reapareceu. Preocupado, inquieto e nervoso, indicou que finalmente eu dispunha de todas as autorizações para ir embora. E, enfim, decolamos.
Essa proibição de sobrevoo, decretada de forma simultânea e coordenada por quatro países sob o comando único da Central Intelligence Agency (CIA) contra um país soberano com o único pretexto de que talvez transportássemos Snowden, traz para o centro do debate o peso político da principal potência imperial: os Estados Unidos.
Até o dia 2 de julho (data do meu sequestro), todos compreendiam o fato de os Estados Unidos se munirem de agências de segurança com a finalidade de proteger seu território e sua população. Mas Washington ultrapassou os limites do tolerável. Violando os princípios da boa-fé e as convenções internacionais, transformou uma parte do continente europeu em território colonizado. Trata-se de uma violação de direitos humanos, uma das conquistas da Revolução Francesa.
O espírito colonial que conduziu vários países a se submeterem às suas ordens demonstra mais uma vez que, para o império, não existem limites legais, morais ou territoriais para a imposição de suas vontades. Agora, está claro para o mundo inteiro que, para uma potência como essa, qualquer lei pode ser transgredida; qualquer soberania, violada; qualquer direito humano, ignorado.
A potência dos Estados Unidos reside, sem dúvida, em suas forças armadas, implicadas em diversas guerras de invasão e apoiadas por um aparato militar-industrial fora do comum. As etapas de suas intervenções são conhecidas: após as conquistas militares, a imposição do livre-comércio, de uma concepção particular de democracia e, finalmente, a submissão das populações à voracidade das multinacionais. As marcas indeléveis do imperialismo, seja ele militar ou econômico, desfiguraram o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, a Síria. Alguns foram invadidos sob o pretexto de suspeita de fabricação de armas de destruição em massa, outros por supostamente abrigar organizações terroristas – mas, de forma geral, são países onde milhares de seres humanos foram assassinados sem que a Corte Penal Internacional estabelecesse qualquer processo.
No entanto, a potência norte-americana também se funda em dispositivos subterrâneos destinados a propagar o medo, a chantagem e a intimidação. Entre as receitas usadas por Washington para manter seu estatuto, destaca-se a “punição exemplar”, no mais puro estilo colonial que conduziu à repressão dos indígenas de Abya Ayala.2 Essa prática recai, atualmente, sobre os povos que decidiram se libertar e sobre os dirigentes políticos que resolveram governar para os mais humildes.
A memória dessa política da punição exemplar ainda está viva na América Latina: basta pensar nos golpes de Estado contra Hugo Chávez na Venezuela em 2002, contra o presidente hondurenho Manuel Zelaya em 2009, contra Correa em 2010, contra o presidente paraguaio Fernando Lugo em 2012 e, claro, contra nosso governo em 2008, sob a liderança do embaixador norte-americano na Bolívia, Philip Goldberg.3 “O exemplo”, para que indígenas, operários, camponeses, movimentos sociais não ousem levantar a cabeça contra as classes dominantes. “O exemplo”, para dobrar os que resistem e para aterrorizar aos outros. Mas um “exemplo” que, hoje, incita os humildes do continente e do mundo inteiro a redobrar seus esforços de unidade para fortalecer suas lutas.
O atentado do qual fomos vítimas revela as duas faces de uma mesma opressão, contra a qual os povos decidiram se revoltar: o imperialismo e seu gêmeo político e ideológico, o colonialismo. O sequestro do avião presidencial boliviano e de seu equipamento – episódio que estimamos ser impensável no século XXI – ilustra a sobrevivência de uma forma de racismo no seio de certos governos europeus. Para eles, os indígenas e os processos democráticos ou revolucionários nos quais se engajam representam obstáculos na via da civilização. Esse racismo se refugia na arrogância das explicações “técnicas” mais ridículas para maquiar uma decisão política nascida em um escritório de Washington. Eis governos que perderam até a capacidade de se reconhecer como colonizados e tentam proteger a reputação de seu mestre…
Quem diz império, diz colônias. Ao optarem por obedecer às ordens dadas, certos países europeus confirmaram seu estatuto de submissos. A natureza colonial da relação entre os Estados Unidos e a Europa se intensificou depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, e foi revelada em 2004, quando o mundo soube da existência de voos ilícitos de aviões militares norte-americanos transportando supostos prisioneiros de guerra para Guantánamo ou em direção a prisões europeias. Hoje, sabe-se que esses “terroristas” foram submetidos à tortura – realidade que até as organizações de defesa dos direitos humanos escamoteiam.
A guerra contra o terrorismo reduziria a velha Europa à condição de colônia; um ato pouco amistoso, a saber, hostil, que pode ser analisado como uma forma de terrorismo de Estado – pois permite que a vida privada de milhões de cidadãos seja colocada à mercê dos caprichos do império.4
O descrédito para o direito internacional que nosso sequestro representa talvez constitua um ponto de ruptura. A Europa deu nascimento aos ideais mais nobres: liberdade, igualdade, fraternidade. Contribuiu amplamente para o progresso científico e para a emergência da democracia. E agora não passa de uma figura pálida dela mesma: um neo-obscurantismo ameaça os povos de um continente que, há alguns séculos, iluminava o mundo com suas ideias revolucionárias e suscitava a esperança.
Nosso sequestro poderia oferecer a todos os povos e governos da América Latina, Caribe, Europa, Ásia, África e América do Norte a ocasião única de constituir um bloco solidário condenando a atitude indigna dos Estados implicados nessa violação do direito internacional. Trata-se, igualmente, de uma ocasião ideal para reforçar as mobilizações de movimentos sociais em vias de construir outro mundo, de fraternidade e complementaridade. Essa tarefa cabe aos povos.
Estamos certos de que os povos de todo o mundo, notadamente os da Europa, ressentem a agressão da qual fomos vítimas e se sentem afetados por ela. E interpretamos essa indignação como uma forma indireta de pedido de desculpa que os governos responsáveis ainda se recusam a fazer.5
Evo Morales
Presidente do Estado Plurinacional da Bolívia
1 Da qual são membros Antígua e Barbuda, Bolívia, Cuba, República Dominicana, Equador, Nicarágua, São Vicente e Granadinas, e a Venezuela. (Todas as notas são da redação.)
2 Nome dado pelas etnias kunas no Panamá e Colômbia ao continente americano antes da chegada de Cristóvão Colombo. Em 1922, esse nome foi escolhido pelas nações indígenas da América para designar o continente.
3 Ler Hernando Calvo Ospina, “Petit précis de déstabilisation en Bolivie” [Pequeno indício de desestabilização na Bolívia], Le Monde Diplomatique, jun. 2010.
4 Ler Maurice Lemoine, “L’homme qui menaçait les États-Unis” [O homem que ameaçava os Estados Unidos], Le Monde Diplomatique, maio 2009.
5 No dia 10 de julho de 2013, Madri apresentou suas desculpas oficiais a La Paz.
fonte:
http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=1466
http://www.monde-diplomatique.fr/2013/08/MORALES/49552
Embaixador Ali Ghanezadeh: Presidente eleito no Irã dará postura “moderada” ao governo
27 jun 2013 Deixe um comentário
em América Latina, Ásia, Brasil, entrevista, movimentos sociais, notícias, Oriente Médio, política externa, Relações Internacionais, segurança internacional, sociologia Tags:Agência, Ahmadinejad, Ali, brasil, conflitos, democracia, embaixador, entrevista, Ghanezadeh, Hassan, internacional, iraniano, Irã, junho, mahmoud, manifestações, Mohammad, opinião, pravda, presidente, protestos, Rouhani, vandalismo
27.06.2013 02:12
Há pouco mais de uma semana, 36,7 milhões de iranianos foram às urnas e escolheram o clérigo moderado Hassan Rouhani como novo presidente da República. Ele assume o governo em agosto, em substituição a Mahmoud Ahmadinejad. Em sua campanha, Rouhani prometeu aproximar o Irã do Ocidente, atenuar as diferenças e buscar a conciliação. O embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeh reiterou que a personalidade “moderada” do presidente eleito dará novos rumos ao país.
Dizendo-se impressionado com o dinamismo e a relevância do Brasil no cenário mundial, Ghanezadeh, em sua primeira entrevista à imprensa nacional, demonstrou que acompanha de perto todos os acontecimentos no país. Ao ser perguntado sobre as manifestações nas ruas, inclusive com atos de violência e vandalismo, ele optou por elogiar o ambiente democrático.
“É preciso olhar para as manifestações de forma positiva [como ressaltou a presidenta Dilma Rousseff] e não negativamente”, disse o diplomata. “A presença da população nas ruas demonstra o dinamismo democrático que existe no Brasil, é a oportunidade de o governo ouvir a população sobre suas demandas, de modo geral. Considero as manifestações algo positivo. [Mas] não é bom nenhum tipo de violência.” A seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva do embaixador do Irã à Agência Brasil.
Agência Brasil – Há cerca de um ano, o senhor está no Brasil, quais são suas impressões? O senhor está impressionado com essas manifestações nas ruas de várias cidades, com alguns casos de violência e vandalismo? Isso repercute negativamente a imagem do Brasil no exterior?
Mohammad Ali Ghanezadeh – A presidenta Dilma Rousseff enfatizou que essas manifestações são a evidência do dinamismo da democracia que há em seu país. A presença da população nas ruas demonstra o dinamismo democrático que existe no Brasil, que é a oportunidade de o governo ouvir a população sobre suas demandas, considero as manifestações algo positivo. [Mas] não é bom nenhum tipo de violência. É preciso olhar para as manifestações de forma positiva [com a presidenta Dilma disse] e não negativamente. É uma questão da política interna brasileira. O Brasil é um país de economia dinâmica e variada, com um futuro cada vez mais relevante no mundo e um papel de destaque na ordem mundial. Para mim, é uma grande honra estar aqui.
Depois de dois mandatos seguidos do presidente Mahmoud Ahmanejad, o Irã escolhe um novo presidente. Qual o significado dessas eleições?
Não foram apenas eleições, foi uma forma de o povo iraniano demonstrar sua confiança e responder à propaganda negativa da imprensa estrangeira contra o Irã. Mais de 72% dos eleitores participaram [de um total de 50 milhões de eleitores]. É uma oportunidade de interagir com o mundo e de demonstrar o contentamento da sociedade iraniana.
A expectativa é que o presidente eleito Hassan Rouhani adote uma nova forma de lidar com o Ocidente. É possível acreditar nisso?
O presidente Rouhani desempenhou por 16 anos vários cargos importantes, é uma pessoa instruída, com doutorado na Universidade de Glasgow (Escócia) e muito respeitado pelas autoridades ocidentais. O modo moderado como se comunica é observado pelo Ocidente. A campanha presidencial dele tinha como slogan “Esperança e prudência”, o que conquistou a população. Com esse conjunto de características, oxalá ajude na interação com o Ocidente.
Em relação ao programa nuclear iraniano, alvo de sanções e suspeitas por parte de um grupo da comunidade internacional, o que pode mudar?
Certamente, o presidente Rouhani aproveitará sua experiência para chegar a um entendimento, no passado ele conseguiu um acordo com o então presidente da França Jacques Chirac [1995-2007]. Unindo sua experiência pessoal com o modo moderado como lida com as questões, isso certamente contribuirá e eu estou otimista. Mas o Irã não pretende ignorar seu direito de desenvolver um programa nuclear próprio para fins pacíficos. Certamente serão apresentadas todas as garantias [para a comunidade internacional] sobre os fins pacíficos do nosso programa.
O senhor também está otimista sobre o fim das sanções internacionais, impostas, sobretudo, devido ao programa nuclear iraniano?
Essa é uma questão muito complexa, que levará algum tempo, não será decidida rapidamente, pois alguns países ocidentais têm uma posição de arrogância em relação ao Irã. [Infelizmente], o objetivo das sanções é atingir principalmente o povo iraniano. O Irã é um poder regional, que tem uma relação positiva com os 15 países da região, um PIB [Produto Interno Bruto] superior a US$ 1 bilhão e capacidade própria de desenvolvimento. No Irã, viveram povos das antigas civilizações. Ninguém pode ignorar isso. [As sanções] mostram que até o momento conseguimos enfrentá-las. Há resistência do povo iraniano em relação ao embargo [como os iranianos chamam os efeitos das sanções]. Mas tudo isso não ocorrerá da noite para o dia, levará tempo.
O presidente Mahmoud Ahmadinejad viajou algumas vezes para a América Latina e visitou o Brasil também. O presidente eleito Rouhani pretende vir ao Brasil nos próximos meses?
O Brasil é um líder econômico não apenas na sua região. O presidente eleito [Rouhani] disse, em entrevista coletiva, que pretende desenvolver as relações com a América Latina, apesar da propaganda explícita dos Estados Unidos de forçar cada vez mais o isolamento do Irã. O Brasil, a Venezuela e vários países da região [América Latina] ignoram isso. A realidade mostra que a América Latina conseguiu sobrepor essa vontade imposta pelos Estados Unidos, conquistando suas próprias aspirações e objetivos. Nesse sentido, as relações do Irã com a América Latina devem continuar. Por enquanto, não há planos de ele [Rouhani] visitar o Brasil, mas certamente no futuro serão programadas visitas.
Há uma curiosidade sobre o futuro do presidente Ahmadinejad: ele deixará a vida política?
O presidente Ahmadinejad é um professor universitário e indicou que pretende retornar à universidade. Mas isso não quer dizer que ele pretenda abandonar a vida política.
Fonte: Agência Brasil
http://port.pravda.ru/mundo/27-06-2013/34827-moderado_ira-0/#
A praga do “pensamento único”
26 ago 2012 Deixe um comentário
em América Latina, África, Ásia, Brasil, economia, Estados Unidos, Europa, Oriente Médio, política externa, Relações Internacionais, sustentabilidade, tecnologias de informação Tags:único, bernabucci, capital, capitalismo, carta, comunicação, democracia, imprensa, informação, massa, mídia, MCM, media, meios, neliberal, neoliberalismo, opinião, pública, pensamento
Por Claudio Bernabucci
John K. Galbraith, um dos mais importantes economistas do século XX, pronunciou-se algumas vezes sobre a “imbecilidade dos capitalistas”. A observação factual da crise sistêmica que o mundo está vivendo, sem perspectiva de solução equilibrada dentro das regras existentes, levaria a pensar que a afirmação do economista canadense tivesse fundamento.
No entanto, do ponto de vista das ideias, devemos reconhecer que, nas últimas décadas, o capitalismo neoliberal teve a capacidade de exercer uma hegemonia ímpar sobre todas as atividades humanas. Sofisticados instrumentos teóricos e culturais permitiram a esta nova ideologia eliminar qualquer resistência e crítica significativas, a ponto de se configurar como um “pensamento único”. Só recentemente, diante dos graves escândalos no coração do sistema, este primado começou a ser posto em discussão de forma incisiva.
Já mencionamos a batalha de ideias em curso e a relação de forças existentes. Vale a pena reiterar que estamos assistindo a uma autêntica guerra global dentro do sistema capitalista, da qual o neoliberalismo sairá derrotado ou vencedor. No último caso, podemos estar certos: o que resta da democracia no planeta estaria seriamente comprometido. Neste quadro, a circulação das ideias em escala planetária é fundamental para a definição do resultado. Somente por meio da difusão de pensamentos plurais e antitéticos ao dominante, poderão ser conquistadas as mentes e os corações habilitados a criar uma nova civilização para superar as injustiças de um mundo onde minorias não eleitas decidem o destino de bilhões de seres humanos.
A ferramenta principal é a mídia. A livre difusão da internet – com a grave exceção da China –, apesar de limitada, permite uma informação de baixo para cima que tem aberto brechas importantes no monólito do pensamento único. Os jornais independentes sempre foram minoria e, na chamada grande imprensa, as vozes autônomas são escassas, relegadas aos espaços de debates: espécie de reserva indígena-intelectual, que visa demonstrar o pluralismo de um jornal, enquanto a informação transmitida em todas as outras páginas defende pura e simplesmente a ordem existente. Mundo afora, o cidadão é informado sobre a crise econômico-financeira de forma predominantemente mecanicista, tecnicista e distorcida. As causas principais das convulsões em curso são eludidas: in primis a desregulamentação insensata do sistema financeiro, origem de fraudes e falências.
As análises de economistas e jornalistas alinhados ao neoliberalismo, e que ainda são maioria, chegam de hábito a um beco sem saída, a um porto das névoas, quando tocam o tema “mercados”. Neste ponto, as dúvidas desaparecem, as perguntas se extinguem – Ipse dixit! – em obséquio aos inomináveis e onipotentes titereiros donos dos “mercados”.
Sendo assim, os cortes sociais realizados pelos governos europeus, alvos de ataques especulativos, são descritos mecanicamente como respostas obrigatórias, para satisfazer às exigências ou aos humores dos “mercados”. Obviamente, isso é feito sem informar quais grupos de interesses e forças concretas estão por trás dos tais “mercados”. As imponentes transferências de riquezas provocadas pela gangorra dos spreads ou negociatas das bolsas de valores, a existência de imensas fortunas escondidas nos “paraísos fiscais”, são fatos descritos de forma fria e tecnicista, incompreensível para o cidadão comum, oferecendo uma representação da realidade absolutamente surrealista, sem análise alguma sobre as causas e consequências.
A situação da mídia brasileira cabe perfeitamente neste quadro, com algum agravante. O “pensamento único” da chamada grande imprensa é bem mais extenso aqui do que em outros países de democracia madura. A esse aspecto acrescenta-se um partidarismo acentuado, unilateralmente antigovernamental, que contrasta com uma concepção da informação como serviço pluralista à cidadania. O governo brasileiro não pode ser isento de críticas, mas o mérito de ser um dos poucos no mundo que na última década conseguiram crescimento econômico e diminuição das desigualdades, deveria ser reconhecido em homenagem aos fatos.
Em suma, a opinião pública mundial padece de uma informação parcial ou distorcida, que esconde a realidade de um planeta onde a desigualdade sem freios e a avidez do lucro estão comprometendo as possibilidades de construir um futuro comum. Esta “cegueira” é na maioria das vezes fruto de partidarismo ideológico, que esconde interesses oligárquicos supranacionais; outras vezes é consequência da incapacidade de sair do esquema prefixado de pensar e agir. Para reverter esse quadro perigoso, é preciso que se difunda o pensamento crítico, hoje minoritário. O papel da mídia independente é de informar sobre os fatos e ideias que os outros não querem ou não podem contar.
http://www.cartacapital.com.br/politica/a-praga-do-pensamento-unico/
Mahmoud Darwish, poesia pela Palestina
27 jun 2012 Deixe um comentário
em Brasil, movimentos sociais, Oriente Médio, política externa, Relações Internacionais, segurança internacional, video Tags:Alcântara, árabe, Chareti, Costa, Darwish, efêmeras, efêmeros, eua, Facuri, Festival, Gemignani, icárabe, Jarash, Jordania, mahmoud, Médio, Montecinos, Negreiros, Oriente, palavras, Palestina, palestino, Parpolov, poesia, Sleiman, Toubqal, usp
Por Michel Sleiman, Presidente do ICArabe
O grande poeta palestino Mahmoud Darwish, nascido na aldeia de Birwa em 1942 e morto na cidade de Houston, EUA, em 2008, conhecido pela obra traduzida para 20 idiomas, escreveu importantes ensaios e textos de reflexão política publicados ao longo dos anos em revistas e jornais do mundo árabe. Parte desse trabalho encontra-se numa publicação de 1991 da editora marroquina Dar Toubqal, de Casablanca, que reúne alguns dos textos publicados no jornal Alyawm Alsábii (O Sétimo Dia) entre os anos de 1986 e 1988, todos em prosa com exceção do poema“Efêmeros em palavras efêmeras”, que dá título ao livro e que aqui se apresenta em tradução. O poema critica os patriotas sem raiz, pessoas passageiras no trem mais fugaz da História recente, e os confronta com os moradores da Palestina desde tempos imemoriais. De certa forma, dirige-se também aos falaciosos que urdem planos de convivência no âmbito vago e efêmero das palavras, que constroem e derrubam, portanto, castelos quiméricos e usam esvaziada a palavra paz: “Temos o que a vocês aqui não agrada: temos pedra”. Nos últimos anos de vida do poeta,“Efêmeros em palavras efêmeras” esteve dentre as composições mais apreciadas e lidas de Darwish, que o recitou no Festival de Jarash, na Jordânia – do qual participou inúmeras vezes a partir de 1997.
Leia abaixo a tradução do poema ao português, preparada pelos meus alunos de Língua Árabe na USP (Universidade de São Paulo), Alexandre Facuri Chareti, Beatriz Negreiros Gemignani, Camila Alcântara, Renata Parpolov Costa, William Diego Montecinos. Para ouvir a declamação na voz de Darwish, clique aqui:
Efêmeros em palavras efêmeras
1.
Vocês que passam com palavras efêmeras,
levem seus nomes e vão embora
tirem suas horas do nosso tempo e vão embora
roubem à vontade do azul do mar e das areias da lembrança
tirem fotos à vontade, e assim vão saber
que não hão de saber
como uma pedra da nossa terra constrói o teto do céu.
2.
Vocês que passam com palavras efêmeras
de vocês vem espada, de nós vem nosso sangue
de vocês vêm fogo e aço, de nós vem nossa carne
de vocês vem outro tanque, de nós vem pedra
de vocês vem a bomba de gás, de nós vem chuva.
Um mesmo céu e um mesmo ar nos cobre
peguem seu quinhão do nosso sangue, mas vão embora
entrem no jantar dançante, mas vão embora
temos que zelar pela rosa dos mártires
temos que viver como a gente quer!
3.
Vocês que passam com palavras efêmeras,
como a poeira amarga, passem onde quiserem, mas
não passem entre nós como insetos com asas
temos o que fazer na nossa terra
temos trigo a criar e regar com o orvalho do nosso corpo
temos o que a vocês aqui não agrada:
temos pedra… e perdiz!
Levem o passado, se quiserem, ao mercado das quinquilharias
devolvam, se quiserem, o esqueleto do passarinho ao prato de porcelana.
Temos o que não lhes agrada: temos o futuro
temos o que fazer na nossa terra.
4.
Vocês que passam com palavras efêmeras,
soquem seus dramas num buraco abandonado e vão embora
voltem atrás o ponteiro do tempo até o bezerro sagrado
ou até o disparo ritmado do revólver!
Temos o que a vocês aqui não agrada, então vão embora
temos o que por dentro vocês não têm:
uma pátria que jorra um povo que jorra uma pátria
que combina com esquecer e lembrar.
Vocês que passam com palavras efêmeras,
é hora de irem embora
de morarem onde quiserem, mas não entre nós
é hora de irem embora
de morrerem onde quiserem, mas não entre nós
temos o que fazer na nossa terra
aqui temos o passado
temos a primeira voz de vida
temos o presente, o presente e o que está por vir
temos o mundo aqui e temos a outra vida
saiam da nossa terra, do nosso deserto, do nosso mar
saiam do nosso trigo, do nosso sal, da nossa ferida
de tudo
saiam das lembranças da nossa memória,
vocês que passam com palavras efêmeras.
http://www.icarabe.org/noticias/mahmoud-darwish-poesia-pela-palestina
Syrian intervention risks upsetting global order
06 jun 2012 Deixe um comentário
em Estados Unidos, Oriente Médio, política externa, Relações Internacionais, segurança internacional, sociologia Tags:china, civil, Ditadura, equilíbrio, Estados, eua, Europa, guerra, Henry, império, Kissinger, Médio, Oriente, otomano, poder, Rússia, Síria, Syria, Unidos, Vestfália, vestifália, Westphalia
By Henry A. Kissinger, Published: June 1
The Arab Spring is generally discussed in terms of the prospects for democracy. Equally significant is the increasing appeal — most recently in Syria — of outside intervention to bring about regime change, overturning prevalent notions of international order.
The modern concept of world order arose in 1648 from the Treaty of Westphalia, which ended the Thirty Years’ War. In that conflict, competing dynasties sent armies across political borders to impose their conflicting religious norms. This 17th-century version of regime change killed perhaps a third of the population of Central Europe.
To prevent a repetition of this carnage, the Treaty of Westphalia separated international from domestic politics. States, built on national and cultural units, were deemed sovereign within their borders; international politics was confined to their interaction across established boundaries. For the founders, the new concepts of national interest and balance of power amounted to a limitation, not an expansion, of the role of force; it substituted the preservation of equilibrium for the forced conversion of populations.
The Westphalian system was spread by European diplomacy around the world. Though strained by the two world wars and the advent of international communism, the sovereign nation-state survived, tenuously, as the basic unit of international order.
The Westphalian system never applied fully to the Middle East. Only three of the region’s Muslim states had a historical basis: Turkey, Egypt and Iran. The borders of the others reflected a division of the spoils of the defunct Ottoman Empire among the victors of World War I, with minimal regard for ethnic or sectarian divisions. These borders have since been subjected to repeated challenge, often military.
The diplomacy generated by the Arab Spring replaces Westphalian principles of equilibrium with a generalized doctrine of humanitarian intervention. In this context, civil conflicts are viewed internationally through prisms of democratic or sectarian concerns. Outside powers demand that the incumbent government negotiate with its opponents for the purpose of transferring power. But because, for both sides, the issue is generally survival, these appeals usually fall on deaf ears. Where the parties are of comparable strength, some degree of outside intervention, including military force, is then invoked to break the deadlock.
This form of humanitarian intervention distinguishes itself from traditional foreign policy by eschewing appeals to national interest or balance of power — rejected as lacking a moral dimension. It justifies itself not by overcoming a strategic threat but by removing conditions deemed a violation of universal principles of governance.
If adopted as a principle of foreign policy, this form of intervention raises broader questions for U.S. strategy. Does America consider itself obliged to support every popular uprising against any non-democratic government, including those heretofore considered important in sustaining the international system? Is, for example, Saudi Arabia an ally only until public demonstrations develop on its territory? Are we prepared to concede to other states the right to intervene elsewhere on behalf of coreligionists or ethnic kin?
At the same time, traditional strategic imperatives have not disappeared. Regime change, almost by definition, generates an imperative for nation-building. Failing that, the international order itself begins to disintegrate. Blank spaces denoting lawlessness may come to dominate the map, as has already occurred in Yemen, Somalia, northern Mali, Libya and northwestern Pakistan, and may yet happen in Syria. The collapse of the state may turn its territory into a base for terrorism or arms supply against neighbors who, in the absence of any central authority, will have no means to counteract them.
In Syria, calls for humanitarian and strategic intervention merge. At the heart of the Muslim world, Syria has, under Bashar al-Assad, assisted Iran’s strategy in the Levant and Mediterranean. It supported Hamas, which rejects the Israeli state, and Hezbollah, which undermines Lebanon’s cohesion. The United States has strategic as well as humanitarian reasons to favor the fall of Assad and to encourage international diplomacy to that end. On the other hand, not every strategic interest rises to a cause for war; were it otherwise, no room would be left for diplomacy.
As military force is considered, several underlying issues must be addressed: While the United States accelerates withdrawals from military interventions in neighboring Iraq and Afghanistan, how can a new military commitment in the same region be justified, particularly one likely to face similar challenges? Does the new approach — less explicitly strategic and military, and geared more toward diplomatic and moral issues — solve the dilemmas that plagued earlier efforts in Iraq or Afghanistan, which ended in withdrawal and a divided America? Or does it compound the difficulty by staking U.S. prestige and morale on domestic outcomes that America has even fewer means and less leverage to shape? Who replaces the ousted leadership, and what do we know about it? Will the outcome improve the human condition and the security situation? Or do we risk repeating the experience with the Taliban, armed by America to fight the Soviet invader but then turned into a security challenge to us?
The difference between strategic and humanitarian intervention becomes relevant. The world community defines humanitarian intervention by consensus, so difficult to achieve that it generally limits the effort. On the other hand, intervention that is unilateral or based on a coalition of the willing evokes the resistance of countries fearing the application of the policy to their territories (such as China and Russia). Hence it is more difficult to achieve domestic support for it. The doctrine of humanitarian intervention is in danger of being suspended between its maxims and the ability to implement them; unilateral intervention, by contrast, comes at the price of international and domestic support.
Military intervention, humanitarian or strategic, has two prerequisites: First, a consensus on governance after the overthrow of the status quo is critical. If the objective is confined to deposing a specific ruler, a new civil war could follow in the resulting vacuum, as armed groups contest the succession, and outside countries choose different sides. Second, the political objective must be explicit and achievable in a domestically sustainable time period. I doubt that the Syrian issue meets these tests. We cannot afford to be driven from expedient to expedient into undefined military involvement in a conflict taking on an increasingly sectarian character. In reacting to one human tragedy, we must be careful not to facilitate another. In the absence of a clearly articulated strategic concept, a world order that erodes borders and merges international and civil wars can never catch its breath. A sense of nuance is needed to give perspective to the proclamation of absolutes. This is a nonpartisan issue, and it should be treated in that manner in the national debate we are entering.
2012 Tribune Media Services